Embrapa Vegetables
Cultivares
Tratos culturais
A seleção e a disponibilização de cultivares de batata-doce mais precoces, com melhor desempenho agronômico e com adaptação às diferentes regiões geográficas de produção podem aumentar o potencial produtivo e a qualidade das raízes, reduzir a sazonalidade e, consequentemente, impactar no preço de mercado, tornando-a mais acessível à população de baixa renda. A lista de cultivares de batata-doce do Registro Nacional de Cultivares (Tabela 1) apresenta uma série de lançamentos a partir de iniciativas isoladas, de caráter regional e, em sua maioria, provenientes de seleções a partir de bancos de germoplasma ou de genótipos de produtores.
Tabela 1. Cultivares de batata-doce (Ipomoea batatas L.) Lam. registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Cultivar | Mantenedor | Nº de registro |
Amanda | UFT | 22593 |
Ana Clara | UFT | 22594 |
Bárbara | UFT | 22595 |
Beatriz | UFT | 22596 |
Beauregard | Embrapa | 26934 |
Brazlândia Branca | Embrapa | 07840 |
Brazlândia Rosada | Embrapa | 07841 |
Brazlândia Roxa | Embrapa | 07852 |
BRS Amélia | Embrapa | 27313 |
BRS Anembé | Embrapa | 44047 |
BRS Cotinga | Embrapa | 44053 |
BRS Cuia | Embrapa | 27315 |
BRS Fepagro Viola | Embrapa/DDPA | 33889 |
BRS Gaita | Embrapa | 33890 |
BRS Rubissol | Embrapa | 27314 |
Carolina Vitoria | UFT | 22597 |
Coquinho | Embrapa | 07849 |
Duda | UFT | 22598 |
Iapar 69 | Iapar | 02322 |
Iapar 70 | Iapar | 02323 |
Izabela | UFT | 22600 |
Julia | UFT | 22599 |
Livia | UFT | 22591 |
Marcela | UFT | 22592 |
Princesa | Embrapa | 06495 |
SCS 367 Favorita | Epagri | 27465 |
SCS 368 Ituporanga | Epagri | 27464 |
SCS 369 Águas Negras | Epagri | 32952 |
SCS 370 luiza | Epagri | 32952 |
SCS 371 Katiy | Epagri | 32953 |
SCS 372 Marina | Epagri | 32954 |
Estas cultivares se diferenciam pela produtividade potencial, ciclo, exigências edafoclimáticas, porte e arquitetura da planta, formato e coloração das raízes, resistência a pragas e doenças, exigência nutricional e em tratos culturais. Há variabilidade também na coloração da polpa (branca, creme, amarela, laranja e roxa); na coloração da película externa (branca, creme, amarela, laranja, rosa, vermelha e roxa); formato da raiz (oblonga, obovada, ovada, longa irregular, longa elíptica, longa oblonga, redonda, redonda elíptica e elíptica); formato e cor das folhas dentre outras características (Figura 1).
Foto: Geovani Bernardo Amaro.

Figura 1. Raízes de cultivares com colorações e formatos diversos.
Entretanto, algumas delas estão obsoletas e não satisfazem as necessidades atuais e futuras da cultura na plenitude, pela necessidade de mecanização crescente, maior exigência quanto à padronização e qualidade das raízes, maior produtividade, maior resistência a pragas e doenças, arquitetura de planta e desempenho agronômicos superiores, e melhor qualidade de polpa para consumo in natura e processamento. A proposta de um programa de melhoramento a nível nacional com a ação em rede entre a Embrapa, institutos de pesquisa, universidades e empresas privadas é essencial para que sejam alcançados resultados para desafios nacionais, com foco nas demandas da cadeia de valor de batata-doce.
Para a instalação de uma lavoura comercial, a escolha da cultivar deve ser feita de maneira criteriosa, levando em consideração as características edafoclimáticas da região e as informações sobre as demandas do mercado em que o produto será comercializado. Assim, os principais aspectos a serem considerados ao se escolher uma cultivar são:
- Exigências do mercado: deve-se conhecer a preferência do mercado para o qual irá comercializar as raízes e atender ao máximo com a sua produção. É importante ter informações sobre a qualidade exigida, a quantidade demandada e as variações de preço, além de estar atento aos sinais de mudança na abertura de novos mercados.
- Adaptação ao local e época de plantio: a batata-doce é uma espécie bem adaptada ao clima tropical e o desenvolvimento das plantas é limitado nos períodos com baixas temperaturas. Algumas cultivares se desenvolvem bem em temperaturas amenas, porém não suportam geadas. É importante que o produtor conheça bem as variações climáticas das regiões que se pretende plantar para escolher as melhores épocas e quais as cultivares que podem ser utilizadas.
- Tolerância a pragas e doenças: a utilização de cultivares que apresentam tolerância às principais pragas e doenças é a maneira mais racional de manejo, pois a muda já leva a “tecnologia” para o campo. O uso de cultivares resistentes garante estabilidade de produção, ajuda reduzir o custo final do produto devido ao menor número de aplicações de produtos fitossanitários, gerando ganhos para o agricultor, para o consumidor e para o meio ambiente. Quando possível, o agricultor deve dar preferência para cultivares tolerantes e resistentes ao maior número de pragas e doenças possível, especialmente as de difícil controle e que causam maiores perdas.
- Ciclo: embora o ciclo de uma planta seja dependente das condições climáticas, da nutrição e do ataque de pragas e doenças, podem existir diferenças importantes entre as cultivares disponíveis no mercado. O agricultor deve considerar o ciclo da cultivar no planejamento de plantio de modo a oferecer produtos nos momentos mais interessantes.
- Potencial produtivo: é o aspecto que chama a atenção dos produtores e que normalmente determina a escolha de uma cultivar. Entretanto, cultivares com maior potencial produtivo podem ser também mais exigentes em tecnologia de produção e expressam esse potencial somente se as condições adequadas de manejo cultural forem aplicadas.
- Comprimento das ramas: as ramas longas se entrelaçam rapidamente, promovendo uma maior competição entre plantas e dificultando os trabalhos de capina e de renovação das leiras. Utilizando-se cultivares de ramas longas, a última operação com trabalho nas entrelinhas tem que ser realizada mais cedo, para que não ocorra danos nas ramas entrelaçadas.
- Formação das raízes: existem cultivares que formam aglomerados de raízes bem próximas à planta, facilitando a operação da colheita, tanto mecanizada quanto manual. Mas, há também aquelas cultivares que formam raízes dispersas com relação à planta, o que aumenta a chance de serem cortadas ou danificadas por ocasião da colheita, sobretudo na colheita mecanizada.
- Colheita mecanizada: cultivares precoces, com ramas curtas, porte ereto e com raízes aglomeradas são opções interessantes quando existe a possibilidade de realizar a colheita mecanizada.
- Novas cultivares podem ser agronomicamente superiores, porém a melhor cultivar não é necessariamente aquela lançada recentemente, altamente produtiva e cultivada com sucesso pelo vizinho, mas, aquela que se adapta melhor ao seu sistema de produção, expressando ao máximo o seu potencial e que atenda ao seu nicho de mercado específico. O agricultor deve ser um experimentador capaz de observar as peculiaridades da sua área e a interação dessas com as diferentes cultivares disponíveis no mercado.
Portanto, dada a sua importância e complexidade, o produtor deve munir-se de informações para a escolha da cultivar. Deve-se sempre procurar auxílio de outros agricultores da região, técnicos especializados dos órgãos de assistência técnica e de pesquisa. Assim, para auxiliar nesta escolha apresentamos abaixo algumas características das cultivares de batata-doce disponibilizadas no mercado brasileiro pela Embrapa.
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Beauregard
A batata-doce Beauregard é uma cultivar de origem americana desenvolvida e lançada pela Louisiana State University (LSU), em 1981. Foi introduzida no Brasil pelo Centro Internacional de la Papa (CIP) e selecionada no âmbito do programa Biofortificação no Brasil (BioFort). A Beauregard foi recomendada como cultivar pela Embrapa Hortaliças para cultivo no país no ano de 2010. Essa cultivar (Figura 2) apresenta geralmente 10 vezes mais carotenoides (pró-vitamina A) do que as de polpa mais clara. A coloração alaranjada da batata Beauregard se deve ao seu alto teor de betacaroteno. A sua produtividade normal por hectare é 30 toneladas de raízes comerciais em uma densidade de 33.000 plantas. Possui ciclo de 120 a 150 dias. É recomendada para o plantio nas principais regiões produtoras de batata-doce no Brasil ao longo do ano todo, exceto em locais e períodos em que a temperatura mínima for inferior a 15 ºC.
Foto: Paula Fernandes Rodrigues.
Figura 2. Raízes da cultivar Beauregard.
Brazlândia Branca
Essa cultivar (Figura 3) foi obtida a partir de uma coleta realizada na região de Brazlândia, DF, em abril de 1980. Suas raízes tuberosas possuem película externa branca, polpa creme-clara que, após o cozimento, torna-se amarela-clara. A polpa é macia e seca, porém menos que a `Coquinho` e a `Brazlândia Roxa`. O formato das raízes é alongado, uniforme, com ótimo aspecto comercial. A planta é do tipo esparsa (rasteira). Suas ramas desenvolvem-se rapidamente, são de comprimento médio a longo, grossas (diâmetro de 8 mm a 9 mm), de cor verde. As folhas são grandes, medindo de 12 cm a 15 cm de comprimento e de 13 cm a 17 cm de largura. Os brotos são verdes. A sua produtividade normal é de 25 t/ha de raízes comerciais em uma densidade de plantio de 33.000 plantas por hectare. O seu ciclo médio é de 150 dias. É recomendada para plantio no planalto central do Brasil.
Foto: Paula Fernandes Rodrigues.
Figura 3. Raízes da cultivar Brazlândia Branca.
Brazlândia Rosada
Essa cultivar (Figura 4) foi obtida a partir de uma coleta realizada na região de Brazlândia, DF, em abril de 1980. Tem película externa rosa e a polpa de cor creme que, após o cozimento, torna-se amarelada. O formato é alongado, cheio, muito uniforme, com bom aspecto comercial. A sua polpa é “seca”, porém menos que a de `Coquinho` e `Brazlândia Roxa`. A planta é do tipo esparsa a muito esparsa (rasteira). As ramas desenvolvem-se com rapidez, são longas e medianamente grossas (diâmetro de 6 mm a 7 mm), de cor verde. Suas folhas são grandes, medindo de 12 cm a 16 cm de comprimento e de 13 cm a 18 cm de largura na base, e levemente recortadas. Se colhida tardia ou plantada em espaçamento mais largo, produz batatas graúdas, de elevado peso médio. Recomenda-se fazer a colheita quando as batatas atingirem o tamanho ideal para o comércio (200 g a 500 g). Esta cultivar apresenta aproximadamente 39,7% de matéria seca, sendo que 81,8% deste total representam amido mais açúcar, o que a torna também indicada como matéria-prima para produção de álcool. Sua produtividade normal é de 33 t/ha de raízes comerciais em uma densidade de plantio de 33.000 plantas por hectare. O seu ciclo médio é de 150 dias. É recomendada para o planalto central do Brasil.
Foto: Paula Fernandes Rodrigues.
Figura 4. Raízes da cultivar Brazlândia Rosada.
Brazlândia Roxa
Brazlândia Roxa: Essa cultivar (Figura 5), a exemplo das duas anteriores, foi obtida a partir de uma coleta realizada na região de Brazlândia, DF, em abril de 1980. Suas batatas têm película externa roxa, polpa creme, sabor doce e baixo teor de fibras. Após o cozimento, a polpa torna-se creme-amarelada. O formato é alongado, muito uniforme e com ótimo aspecto comercial. A sua polpa é bem seca. A planta é do tipo esparsa (rasteira). As ramas desenvolvem-se lentamente, são de comprimento médio, com diâmetro médio aproximado de 6 mm, de cor verde. As folhas, tanto as velhas como as novas, são de cor verde, medindo de 11 cm a 15 cm de comprimento por 10 cm a 15 cm de largura na base. Raramente produz batatas graúdas. A sua produtividade normal é de 25 t/ha de raízes comerciais em uma densidade de plantio de 33.000 plantas por hectare. O seu ciclo médio é de 150 dias. É também recomendada para o planalto central do Brasil.
Foto: Paula Fernandes Rodrigues.
Figura 5. Raízes da cultivar Brazlândia Roxa.
BRS Amélia
BRS Amélia: Suas raízes possuem película externa rosa e polpa amarela (Figura 6), com formato fusiforme. No planalto central do País a sua produtividade normal é de 20 t/ha de raízes comerciais em uma densidade de plantio de 33.000 plantas por hectare. Seu ciclo médio é de 150 dias.
Foto: Paulo Lanzetta.
Figura 6. Raízes da cultivar BRS Amélia.
BRS Cuia
BRS Cuia: Suas raízes possuem película externa lisa e branca, polpa branca (Figura 7), com formato longo e cheio. No planalto central do Brasil, sua produtividade normal é de 25 t/ha de raízes comerciais em uma densidade de plantio de 33.000 plantas por hectare. O seu ciclo médio é de 150 dias.
Foto: Paulo Lanzetta.
Figura 7. Raízes da cultivar BRS Cuia.
BRS Rubissol
BRS Rubissol: Suas raízes possuem película externa roxa, polpa branca (Figura 8), com formato longo e cheio. No planalto central do Brasil, sua produtividade normal é de 25 t/ha de raízes comerciais em uma densidade de plantio de 33.000 plantas por hectare. Seu ciclo médio é de 150 dias.
Figura 8. Raízes da cultivar BRS Rubissol.
Coquinho
Essa cultivar possui raízes tuberosas com película externa branca e polpa branca (Figura 9). É originária da Paraíba, tendo sido introduzida no Distrito Federal em 1972 e mantida no quintal da casa de um operário na Fazenda Tamanduá, hoje sede da Embrapa Hortaliças. Foi registrada como cultivar pela Embrapa em 2000. Suas raízes são delicadas, polpa saborosa e doce, bem seca, possui baixo teor de fibras e torna-se de cor branco-acinzentada após o cozimento. As raízes possuem formato arredondado, desuniforme, variando de acordo com o tipo de solo. As plantas possuem hábito de crescimento rasteiro. Suas ramas apresentam crescimento rápido na primavera/verão e lento no outono, nas condições do Distrito Federal. As suas folhas são de tamanho médio a grande (de 12 cm a 16 cm de comprimento e de 9 cm a 13 cm de largura na base) nos plantios de primavera/verão, e pequeno nos plantios de outono. As suas folhas são verde-claras quando novas e verde a verde-claras quando maduras. Suas plantas florescem bastante durante quase o ano todo nas condições do Distrito Federal. A sua produtividade normal é de 22 t/ha de raízes comerciais em uma densidade de plantio de 33.000 plantas por hectare. Possui ciclo médio de 150 dias. É recomendada para o planalto central do Brasil.
Foto: Terezinha Gislene Rodrigues Alencar.
Figura 9. Raízes da cultivar Coquinho.
Princesa
Essa cultivar possui raízes tuberosas com película externa variando de branca a creme, córtex (camada mais externa da polpa) creme-claro e polpa creme, com formato alongado e uniforme (Figura 10). Apresenta boa percentagem de raízes com bom padrão comercial e polpa seca. A planta é do tipo dispersa (rasteira com ramas longas), com ramas de espessura mediana (6 mm a 8 mm de diâmetro), de cor verde-arroxeada e sem pubescência. Suas folhas são de tamanho médio e de cor verde-escura. O limbo foliar é recortado, com cinco lóbulos bem característicos e com maior dimensão sempre superior a 14 cm. As boas características das raízes tuberosas permitem que o seu uso seja predominantemente para mesa, com elevada percentagem de raízes com padrão comercial. O grande vigor vegetativo da planta possibilita que a parte aérea seja utilizada para alimentação animal, juntamente com as batatas-refugo. A sua produtividade normal é de 27 t/ha de raízes comerciais em uma densidade de plantio de 33.000 plantas por hectare. Possui ciclo médio de 150 dias. É recomendada para o planalto central do Brasil.
Foto: Paula Fernandes Rodrigues.
Figura 10. Raízes da cultivar Princesa.