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Doenças viróticas

Rotação de culturas Rotação de culturas

Um dos principais fatores associados à baixa produtividade da batata-doce no Brasil em relação a outros países é a perpetuação de doenças, especialmente aquelas causadas por vírus. No mundo, aproximadamente 30 vírus foram isolados, descritos e/ou caracterizados nos últimos anos em batata-doce, pertencentes a diferentes grupos taxonômicos.

Existem lacunas na identificação da etiologia de algumas viroses em batata-doce, principalmente porque a maioria dos vírus não causa sintomas nesse hospedeiro, sendo necessária a enxertia em uma planta do mesmo gênero chamada Ipomoea setosa para que a detecção seja possível. No Brasil, a cultivar Coquinho é uma das poucas cultivares sintomáticas para a presença de viroses (Figura 4).  Em geral, os sintomas em I. setosa são de mosaico, clorose e, em casos mais severos, encarquilhamento e necrose (Figura 5). A transmissão mecânica dos vírus patogênicos em batata-doce é pouco eficiente. Por fim, o círculo de hospedeiros frequentemente é restrito à família Convolvulaceae.

Os vírus de batata-doce são transmitidos principalmente por moscas brancas e pulgões. A planta é frequentemente infectada por complexos virais (infecções mistas) e as interações entre esses vírus influenciam os sintomas e as perdas de produção. Existem combinações virais que refletem em um quadro sintomatológico mais expressivo e, consequentemente, maior perda de rendimento da cultura e outras combinações que conduzem a infecções mais brandas, dependendo do tipo de vírus e da interação entre eles, conforme informações da Tabela 1. A identificação das espécies de vírus que ocorrem no Brasil é de grande importância para a indexação de matrizes de batata-doce nos programas de produção de batata-doce livre de vírus.

Tabela 1. Principais viroses da batata-doce no mundo e no Brasil e seus sintomas.

Família Viral

Sintomas

Família Potyviridae
Os vírus dessa família relatados em batata-doce são: Sweet potato feathery mottle virus (SPFMV), Sweet potato latent virus (SPLV), Sweet potato mild mottle virus (SPMMV), Sweet potato mild speckling virus (SPMSV), Sweet potato vein mosaic virus (SPVMV), Sweet potato virus 2 (SPV2), Sweet potato virus C (SPVC), Sweet potato virus G (SPVG) e Sweet potato yellow dwarf virus (SPYDV). Dentre esses vírus o SPFMV é o que possui a mais ampla distribuição geográfica, formando, com frequência, diversos complexos virais. No Brasil os principais vírus são o SPFMV e o SPLV. 

O quadro sintomatológico da virose é bastante variado, podendo ocorrer desde ausência completa de sintomas até mosaico severo, dependendo do genótipo e do estresse ambiental a que as plantas estiverem submetidas. 

Família Betaflexiviridae
Os representantes dessa família são o Sweet potato chlorotic fleck virus (SPCFV) e Sweet potato virus C-6 (vírus C-6). 

O SPCFV é assintomático na maioria das plantas infectadas, mas em algumas cultivares pode causar mosqueado nas folhas.

Família Closteroviridae
O único representante dessa família relatado em batata-doce é o Sweet potato chlorotic stunt virus (SPCSV, gênero Crinivirus). Esse vírus é transmitido por moscas brancas e já foi reportado em interações sinergísticas com membros do gênero Potyvirus, Carlavirus, Cucumovirus e Ipomovirus. Dentre essas interações, a mais importante é a com o SPFMV que causa a doença virótica da batata-doce (SPVD). 

Deformação foliar e clorose internerval são os principais sintomas.

Família Geminiviridae
Essa família é composta por 13 vírus: Ipomoea crinkle leaf curl virus (ICLCV), Ipomoea yellow vein virus (IYVV), Sweet potato Golden vein associated virus (SPGVaV), Sweet potato leaf curl virus (SPLCV), Sweet potato leaf curl Canary virus (SPLCCaV), Sweet potato leaf curl China virus (SPLCV-CN), Sweet potato leaf curl Georgia virus (SPLCGV), Sweet potato leaf curl Lanzarote virus (SPLCLaV), Sweet potato leaf curl Spain virus (SPLCESV), Sweet potato leaf curl South Carolina virus (SPLCSCV), Sweet potato leaf curl Uganda virus (SPLCUV), Sweet potato mosaic associated virus (SPMaV) e Sweet potato symptomless virus 1 (SPSMV-1). Essas viroses são transmitidas com baixa eficiência por moscas brancas. 

Os sintomas incluem encarquilhamento e clorose internerval. 

 

Em levantamentos realizados em campos comerciais de batata-doce entre 2016 e 2018 nos estados de São Paulo, Santa Catarina e Distrito Federal os principais vírus identificados via testes serológicos foram o SPFMV, SPC6V, SPMSV, SPLV, SPVG, SPCV e SPCSV.

 

Figura 4. Plantas da cultivar de batata-doce Coquinho apresentando sintomas de infecção viral em condições de campo.

Foto: Alexandre Furtado Silveira Mello

Figura 5. Plantas de Ipomoea setosa enxertadas com ramas de batata-doce colhidas em campos comerciais de produção. Logo após a enxertia (A); 30 dias após a enxertia sem sintomas (B); 30 dias após a enxertia com clorose localizada (C); e 30 dias após a enxertia com amarelecimento generalizado e encarquilhamento das folhas (D).

 

O controle comercial direto de vírus em batata-doce via controle químico ainda não é viável, dessa forma, a maneira mais efetiva de se minimizar o impacto das doenças virais em lavouras comerciais é por meio da utilização de material propagativo sadio. Estes propágulos são obtidos em produtores comerciais de mudas após serem submetidos à cultura de tecidos e confirmação da ausência de vírus em um processo conhecido como indexação viral. No Brasil já existem produtores de ramas livres de vírus que comercializam diretamente aos produtores. Devido ao seu custo inicial, normalmente os produtores utilizam as mudas sadias para o plantio de uma área menor, conhecida como matrizeiro do qual retirarão as ramas para o plantio comercial. Este matrizeiro deverá ser renovado periodicamente de acordo com a ocorrência de insetos vetores de cada região.

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