Embrapa Vegetables
Doenças viróticas
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Sistema de produção de batata-doce
Embrapa Hortaliças
Sistema de Produção, 9
ISSN 1678-880X
Fev/2021
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Rotação de culturas
Um dos principais fatores associados à baixa produtividade da batata-doce no Brasil em relação a outros países é a perpetuação de doenças, especialmente aquelas causadas por vírus. No mundo, aproximadamente 30 vírus foram isolados, descritos e/ou caracterizados nos últimos anos em batata-doce, pertencentes a diferentes grupos taxonômicos.
Existem lacunas na identificação da etiologia de algumas viroses em batata-doce, principalmente porque a maioria dos vírus não causa sintomas nesse hospedeiro, sendo necessária a enxertia em uma planta do mesmo gênero chamada Ipomoea setosa para que a detecção seja possível. No Brasil, a cultivar Coquinho é uma das poucas cultivares sintomáticas para a presença de viroses (Figura 4). Em geral, os sintomas em I. setosa são de mosaico, clorose e, em casos mais severos, encarquilhamento e necrose (Figura 5). A transmissão mecânica dos vírus patogênicos em batata-doce é pouco eficiente. Por fim, o círculo de hospedeiros frequentemente é restrito à família Convolvulaceae.
Os vírus de batata-doce são transmitidos principalmente por moscas brancas e pulgões. A planta é frequentemente infectada por complexos virais (infecções mistas) e as interações entre esses vírus influenciam os sintomas e as perdas de produção. Existem combinações virais que refletem em um quadro sintomatológico mais expressivo e, consequentemente, maior perda de rendimento da cultura e outras combinações que conduzem a infecções mais brandas, dependendo do tipo de vírus e da interação entre eles, conforme informações da Tabela 1. A identificação das espécies de vírus que ocorrem no Brasil é de grande importância para a indexação de matrizes de batata-doce nos programas de produção de batata-doce livre de vírus.
Tabela 1. Principais viroses da batata-doce no mundo e no Brasil e seus sintomas.
Família Viral | Sintomas |
Família Potyviridae | O quadro sintomatológico da virose é bastante variado, podendo ocorrer desde ausência completa de sintomas até mosaico severo, dependendo do genótipo e do estresse ambiental a que as plantas estiverem submetidas. |
Família Betaflexiviridae | O SPCFV é assintomático na maioria das plantas infectadas, mas em algumas cultivares pode causar mosqueado nas folhas. |
Família Closteroviridae | Deformação foliar e clorose internerval são os principais sintomas. |
Família Geminiviridae | Os sintomas incluem encarquilhamento e clorose internerval. |
Em levantamentos realizados em campos comerciais de batata-doce entre 2016 e 2018 nos estados de São Paulo, Santa Catarina e Distrito Federal os principais vírus identificados via testes serológicos foram o SPFMV, SPC6V, SPMSV, SPLV, SPVG, SPCV e SPCSV.
Figura 4. Plantas da cultivar de batata-doce Coquinho apresentando sintomas de infecção viral em condições de campo.
Foto: Alexandre Furtado Silveira Mello
Figura 5. Plantas de Ipomoea setosa enxertadas com ramas de batata-doce colhidas em campos comerciais de produção. Logo após a enxertia (A); 30 dias após a enxertia sem sintomas (B); 30 dias após a enxertia com clorose localizada (C); e 30 dias após a enxertia com amarelecimento generalizado e encarquilhamento das folhas (D).
O controle comercial direto de vírus em batata-doce via controle químico ainda não é viável, dessa forma, a maneira mais efetiva de se minimizar o impacto das doenças virais em lavouras comerciais é por meio da utilização de material propagativo sadio. Estes propágulos são obtidos em produtores comerciais de mudas após serem submetidos à cultura de tecidos e confirmação da ausência de vírus em um processo conhecido como indexação viral. No Brasil já existem produtores de ramas livres de vírus que comercializam diretamente aos produtores. Devido ao seu custo inicial, normalmente os produtores utilizam as mudas sadias para o plantio de uma área menor, conhecida como matrizeiro do qual retirarão as ramas para o plantio comercial. Este matrizeiro deverá ser renovado periodicamente de acordo com a ocorrência de insetos vetores de cada região.