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Nutrição

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Plantio Plantio

Marcha de absorção de nutrientes

A absorção de nutrientes em hortaliças segue um padrão de crescimento ou acúmulo de matéria seca, apresentando geralmente, três fases distintas: na primeira fase a absorção é lenta, seguida de intensa absorção até atingir o ponto máximo, a partir do qual ocorre um pequeno declínio. Em batata-doce, o acúmulo de massa de matéria seca é similar entre folhas, ramas e as raízes tuberosas até os 55 dias do transplantio (DAT), porém a partir dos 85 DAT as raízes tuberosas apresentam-se como o dreno mais forte da planta (Figura 1).

Figura 1. Distribuição da massa de matéria seca entre órgãos de batata-doce.
Fonte: Adaptado de Echer et. al. (2009).

     A absorção de nutrientes acompanha o acúmulo de massa de matéria seca e nos casos dos macronutrientes, o N, o K e o Ca são os absorvidos em maior quantidade. Já o Mn, o B e o Zn são os micronutrientes mais extraídos pela planta (Figura 2).   

Figura 2. Marcha de absorção de macro e micronutrientes pela planta de batata-doce do clone Canandense.   
Fonte: Adaptado de Echer et al. (2009).

A quantidade de nutrientes absorvida pela batata-doce relatada na literatura apresenta grande diversidade de valores (Tabela 1) e isso é explicado em parte pelo diferente potencial produtivo dos ambientes de produção do local do estudo; cultivares; fertilidade e tipo de solo, entre outros. A Tabela 2 apresenta a quantidade de nutriente absorvida e exportada pela batata-doce cultivada em solos arenosos de baixa fertilidade, porém com investimento em fertilidade do solo.

Tabela 1. Quantidade de macronutrientes extraída pela colheita das raízes tuberosas de batata-doce do clone Canadense.

 

 

Extração de nutrientes (kg/ha)

Fonte

Produtividade
(t ha-1)

N

P

K

Ca

MG

Silva et al., (2002)

13 a 15

60 a 113

20 a 47

100 a 236

31 a 35

11 a 13

Miranda et al., (1987)

30

129

50

257

-

-

Malavolta (1981)

16,5

45

7

58

6

3

O´Sullivan et al. (1997)

20

87

8 a 40

100

-

-

Lorenzi et al. (1997)

20

60

6

60

-

-

 

Tabela 2. Marcha de absorção de nutrientes e produção de massa de matéria seca em batata-doce, da cultivar Canadense, por ocasião da colheita.

Órgão

t ha-1

N (kg/ha)

P

(kg/ha)

K

(kg/ha)

Ca

(kg/ha)

Mg

(kg/ha)

S

(kg/ha)

B

(g/ha)

Cu

(g/ha)

Fe

(g/ha)

Mn

(g/ha)

Zn

(g/ha)

Folhas

3,52

124

11

83

52

17

15

162

41

48

380

87

Ramas

4,87

85

12

56

75

16

13

114

41

65

162

57

Raíz

0,74

12

1,5

6

24

1,5

1,2

18

9

10

35

11

Raíz tuberosa**

6,29

129

16

81

23

7,5

9,8

84

52

61

136

82

Total

15,42

350

40,5

226

174

42

39

378

143

184

713

237

 ** Exportado pela colheita (corresponde 24 t/ha de raízes tuberosas)
Fonte: Echer et al. (2009a).


A Tabela 3 apresenta a quantidade de cada macro e micronutriente exportada pela colheita das raízes tuberosas tanto para a finalidade de mesa quanto para a produção de etanol a partir de batata-doce. Nota-se que os valores são muito próximos e a diferença existente é atribuída à produtividade. Portanto, se a finalidade da produção for mesa ou produção de etanol, o fator a ser considerado é a expectativa de produtividade. Isso não significa que para obter 30 t/ha de raízes tuberosas o produtor deva adubar a área com 130 kg/ha de N. Há de se considerar o potencial de resposta a adubação com cada nutriente (ex. cultura anterior; fertilidade do solo; disponibilidade hídrica etc.).

Tabela 3. Quantidade de nutrientes exportada pela colheita de uma tonelada de raízes tuberosas de batata-doce da cultivar Canadense para produção de etanol ou de mesa.

Fonte

Finalidade da produção

Produti-

dade

t/ha

N

(kg t-1)

P

(kg t-1)

K

(kg t-1)

Ca

(kg t-1)

Mg

(kg t-1)

S

(kg t-1)

B

(g

t-1)

Cu

(g t-1)

Fe

(g

t-1)

Mn

(g

t-1)

Zn

(g

t-1)

Echer et al. (2015)

Etanol

21

4,38

0,6

4,12

0,51

0,29

0,17

2,2

5,9

17,4

3,9

3,3

Echer et al. (2009a)

Mesa

24

3,38

0,67

3,38

0,96

0,31

0,40

3,5

2,1

2,54

5,67

3,42

 

O acúmulo diário de N em plantas de batata-doce é de menos de 1,0 kg/ha aos 50 dias após o transplantio (DAT) com crescimento exponencial até o momento da colheita, cujo acúmulo diário é de cerca de 3,5 kg/ha de N aos 145 DAT (Figura 3). A curva de acúmulo de K é semelhante ao N, porém em quantidade inferior, cerca de 2,6 kg/ha ao dia de K. Quanto ao P, o acúmulo máximo atingido foi de 0,5 kg/ha ao dia. Por ser habitualmente uma planta de ciclo perene, a batata-doce continua vegetando e absorvendo nutrientes do solo, e isso explica as curvas obtidas na Figura 3.

 

Figura 3. Acúmulo diário de nutrientes na planta de batata-doce (parte aérea + raiz tuberosa). 

Uma prática de manejo importante a ser considerada, observando-se a Figura 3 é o momento da colheita, pois se o produtor mantiver a cultura no campo após o momento ideal de colheita, haverá acúmulo e exportação desnecessários, principalmente de N e K, e em solos pobres, onde geralmente é cultivada a batata-doce, isso pode contribuir para a redução da fertilidade do solo, o que acarretará na elevação dos custos de produção na próxima safra.


Adubação mineral

A cultura da batata-doce tem a capacidade de crescer e produzir relativamente bem em condições que outras culturas teriam crescimento e produtividade limitados. Os maiores aumentos de produtividade da batata-doce em resposta à adubação mineral estão associados a solos de fertilidade extremamente baixa. Quando a batata-doce é cultivada em rotação com outras culturas que receberam adubação mineral ou em solos mais férteis, a aplicação de fertilizantes minerais não resulta em aumentos expressivos de produtividade. Porém, quando os níveis de fertilidade do solo são baixos, normalmente a batata-doce responde melhor à adubação potássica do que à adubação com nitrogênio (N) e fósforo (P) (Oliveira et al., 2005; Oliveira et al., 2006; Brito et al., 2006).

O N é um nutriente fundamental para o desenvolvimento da batata-doce. A aplicação de doses elevadas desse nutriente promove o crescimento excessivo das ramas e diminui a produtividade de raízes tuberosas, podendo até aumentar a produção de raízes que não atendem aos padrões comerciais (Oliveira et al., 2006). No entanto, as respostas a adubação nitrogenada dependem muito do teor de matéria orgânica do solo, das características do solo e do histórico da área. Em solos arenosos e em cultivos após leguminosas a resposta da batata-doce à aplicação de N mineral ocorre até doses próximas de 50 kg/ha, mas em cultivos após gramíneas a resposta pode ocorrer até a dose de 80 kg/ha de N (Fernandes et al., 2018). Em condição de solo arenoso e de baixa fertilidade pode haver resposta da batata-doce até a dose de 110 kg/ha de N, se o N for fornecido de forma combinada com doses equilibradas de K (Foloni et al., 2013).

É importante que o N seja aplicado de forma parcelada, com metade das doses no plantio e metade em cobertura por volta dos 45 dias após o plantio (DAP), especialmente em solos arenosos. Porém, é preciso acompanhar o crescimento da cultura, pois se a cultura estiver com um bom desenvolvimento vegetativo pode-se dispensar a adubação nitrogenada de cobertura. Atualmente as recomendações de adubação nitrogenada para a cultura da batata-doce têm indicado doses entre 50 e 60 kg/ha de N (Tabelas 4 e 5 ).

Tabela 4. Interpretação dos resultados de análise de solo para P e K e recomendação de adubação mineral para batata-doce nas condições do estado de São Paulo (Lorenzi et al., 1997).

N no

plantio

N em

cobertura(1)

Presina

(mg/dm3)

 

K+ trocável

(mmolc /dm3)

 

 

0-6

7-15

>15

0-0,7

0,8-1,5

>1,5

__________ kg/ha__________

______ P2O5 (kg/ha) _____

_________K2O (kg/ha) __________

20

30

100

80

60

120(2)

90(2)

60

(1)A adubação de cobertura deve ser feita aos 45 dias após o plantio.
(2)Deve-se parcelar a adubação potássica nas doses superiores a 60 kg/ ha-1 de K2O.

 

Tabela 5. Interpretação dos resultados de análise de solo para P e K e recomendação de adubação mineral para batata-doce nas condições do estado de Minas Gerais.

Teor de argila

Disponibilidade de P ou K no solo

Muito baixa

Baixa

Média

Boa

Muito Boa

(%)

Teor de P Mehlich-1 no solo (mg/dm3)

60-100

≤ 2,7

2,8-5,4

5,5-8,0

8,1-12,0

> 12,0

35-60

≤ 4,0

4,1-8,0

8,1-12,0

12,1-18,0

> 18,0

15-35

≤ 6,6

6,7-12,0

12,1-20,0

20,1-30,0

> 30,0

0-15

≤ 10,0

10,1-20,0

20,1-30,0

30,1-45,0

> 45,0

 

__________________________Dose total de P2O5 (kg/ha) __________________________

 

180

180

120

60

0

 

Teor de K Mehlich-1 no solo (mg/dm3)

 

≤ 15

16-40

41-70

71-120

> 120

 

__________________________ Dose total de K2O (kg/ha) __________________________

 

90(2)

90(2)

60

30

0

 

__________________________ Dose total de N (kg/ha__________________________

 

60(1)

60

60

60

60

(1)A adubação nitrogenada deve ser parcelada com metade da dose no plantio e metade em cobertura aos 45 dias após o plantio.
(2)Deve-se parcelar a adubação potássica nas doses superiores a 60 kg/ha de K2O, especialmente em solos arenosos.
Fonte: Alvarez et al. (1999) e  Casali, (1999).

 

As respostas ao P normalmente são menores que as observadas para o K. Isso ocorre porque as raízes absorventes da batata-doce têm a capacidade de se associar com fungos micorrízicos do solo, o que aumenta a capacidade da planta absorver P em solos de baixa fertilidade. Contudo, essa vantagem da cultura é perdida quando são aplicadas altas doses de fertilizantes fosfatados. As recomendações de adubação fosfatada para a cultura da batata-doce devem ser baseadas na análise de solo e nas tabelas de interpretação e recomendação elaboradas pela pesquisa (Tabelas 4 e 5). No caso do P toda a dose recomendada deve ser aplicada no momento do plantio.

O K é o nutriente que promove os maiores aumentos na produtividade da cultura, especialmente em solos deficientes no nutriente. Além disso, esse nutriente tem influência decisiva na formação e no sabor das raízes tuberosas. A dose de K a ser aplicada deve ser estipulada com base na análise de solo e nas tabelas de recomendação oficiais (Tabelas 4 e 5). É importante destacar que em solos arenosos deve-se parcelar a adubação potássica quando as doses forem superiores a 60 kg/ha de K2O, aplicando-se metade da dose no plantio e metade em cobertura por volta dos 45 DAP, junto com o N. Em solos com alta disponibilidade de K (K(resina) ³ 3,0 mmolc/ dm3) a adubação potássica pode ser dispensada, pois não há resposta a aplicação do nutriente.

A resposta da batata-doce à adubação sulfatada (S) praticamente não tem sido estudada nas condições brasileiras. Uma das formas de fornecimento de S para a cultura da batata-doce é através da gessagem e da utilização de fontes NPK que contenham S. Em solos com baixos teores de S e de matéria orgânica e que não receberam aplicação de fertilizante contendo S em sua formulação, recomenda-se aplicar 10 kg/ha de S (Echer, 2015).

O fornecimento adequado de micronutrientes para a batata-doce é de fundamental importância. Nas condições brasileiras, estudos com adubação de micronutrientes na cultura da batata-doce são raros. Em solos de baixa fertilidade, pesquisas indicam que o fornecimento de boro (B) (Echer; Creste, 2011) e zinco (Zn) (Abd EL-Baky et al., 2010) pode aumentar a produtividade de raízes de reserva, sendo que o fornecimento de B, tanto via solo como via foliar, promovem resultados similares (Echer; Creste, 2011). Estudo feito em solo arenoso e com baixo teor de B mostrou que o fornecimento de 2 kg/ha de B teve reflexo positivo sobre a produtividade de raízes tuberosas. Contudo, é preciso salientar que a resposta a aplicação de B depende do seu teor no solo, sendo que em solos com baixos e médios teores de B e com baixo teor de matéria orgânica a resposta da batata-doce a aplicação de B é maior. Assim, em solos com baixos teores de B recomenda-se aplicar até 2,0 kg/ha de B e em solos deficientes em Zn pode-se aplicar entre 5  kg/ha e 10 kg/ha de sulfato de Zn.

 

Adubação orgânica

A adubação orgânica fornece nutrientes para a batata-doce e aumenta a aeração do solo, facilitando o crescimento lateral das raízes tuberosas e diminuindo a formação de raízes tortuosas. Além disso, a adubação orgânica libera os nutrientes no solo de forma gradual a medida que o composto orgânico vai sendo degradado no solo.

Diversos resíduos orgânicos podem ser utilizados como adubo orgânico, tais como esterco bovino, esterco de aves, esterco de porco, torta de mamona, entre outros. Esses resíduos podem ser aplicados diretamente na área a ser cultivada com batata-doce antes do preparo do solo e serem incorporados logo em seguida com as operações de aração e gradagem. Entretanto, para que os resíduos orgânicos sejam utilizados de forma mais eficiente no cultivo da batata-doce o ideal é que eles tenham sido “curtidos” ou compostados, pois assim, eliminam-se problemas com a germinação de sementes de plantas daninhas e a presença de alguns patógenos. Para compostar o material orgânico deve-se formar pilhas com ele no chão, manter essas pilhas de resíduos úmidas, fazer o revolvimento delas a cada dois ou três dias, sendo que ao final de aproximadamente 30 dias será obtido o composto orgânico (esterco curtido) pronto para uso. Esse composto pode ser misturado ao solo das leiras durante a sua confecção ou ser aplicado em filete contínuo sob as leiras com equipamento tratorizado que realiza as operações de aplicação do composto e levantamento da leira simultâneamente. Em solos arenosos e pobres em matéria orgânica pode-se utilizar entre 10 t/ha e 30 t/ha de esterco bovino curtido (Casali, 1999; Silva et al., 2002; Oliveira et al., 2005). No caso do esterco de aves curtido pode-se utilizar a dose de 2,5 t/ha. Quando se utilizada essas doses de esterco, a dose de N mineral deve ser reduzida pela metade, ou mesmo não ser incluída na adubação da cultura, principalmente em solos com teores mais elevados de matéria orgânica.

A adubação orgânica utilizando adubos verdes também é uma opção interessante. A adubação verde com mucuna-preta (Mucuna aterrima), crotalária (Crotalaria juncea), feijão de porco (Canavalia ensiformis) e guandu (Cajanus cajan) têm proporcionado resultados satisfatórios para a batata-doce cultivada em sucessão. Nesse sistema, os adubos verdes podem ser semeados no início da estação chuvosa e quando atingirem a fase de florescimento devem ser incorporados ao solo para que a batata-doce possa ser plantada logo em seguida. A incorporação dos adubos verdes pode ser realizada de diversas formas a depender a disponibilidade de equipamentos que o agricultor tem em sua propriedade. Como exemplo, pode-se fazer a roçagem da biomassa vegetal, seguida da incorporação com grade e posterior levantamento das leiras para o plantio da batata-doce. Em solo arenoso do estado de São Paulo o cultivo de batata-doce em sucessão ao cultivo de mucuna-preta e crotalária (Crotalaria spectabilis), entre os meses de setembro e dezembro, reduziu em 37,5% a necessidade de aplicação de N mineral na batata-doce (Fernandes et al., 2018), demonstrando que além dos benefícios para o solo, a adubação verde é uma opção interessante para economizar fertilizantes minerais.

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