Cana
Cachaça
Autores
Rogério Haruo Sakai - CATI - Coordenadoria de Assistência Técnica Integral
Fabio Cesar da Silva - Embrapa Agricultura Digital
Mariana Lopes de Carvalho - Consultor externo
História da Cachaça
Embora não exista um registro exato do local preciso onde a primeira destilação da Cachaça tenha ocorrido, podemos afirmar que isso aconteceu em algum engenho de açúcar na costa brasileira, por volta dos anos de 1516 a 1532, tornando-a o primeiro destilado da América Latina, antes mesmo do surgimento do Pisco, da Tequila e do Rum.
Embora existam diversas narrativas coloridas sobre os primórdios da produção da Cachaça no Brasil, duas versões procuram explicar de maneira mais plausível os eventos que antecederam o início da destilação da Cachaça.
A primeira versão, amplamente aceita, conta que os portugueses, habituados a consumir bagaceira, um destilado feito a partir das cascas de uva, improvisaram uma bebida destilada utilizando derivados do caldo de cana-de-açúcar, que proporciona sensações prazerosas semelhantes às do destilado português.
Dado que os portugueses já estavam familiarizados com as técnicas de destilação, começaram a destilar o mosto fermentado da “cagaça”, provavelmente também utilizando melaço, um subproduto da produção de açúcar, e o próprio caldo de cana, dando origem à Cachaça - a aguardente de cana brasileira.
Cachaça, caninha, pinga, cana e aguardente de cana
Legislação
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou, 27 dez 2022, normas buscam harmonizar a produção e o consumo das bebidas destiladas de cana, típicas do Brasil. O padrão foi elaborado a partir de critérios técnicos com Análise de Impacto Regulatório (AIR), considerando as contribuições recebidas pela sociedade.
Segundo Portaria Mapa nº 539, que Estabelece os Padrões de identidade e Qualidade da cachaça, a palavra cachaça é uma denominação típica que deve ser usada exclusivamente para aguardente de cana-de- açúcar produzida no Brasil. Deve possuir a graduação alcoólica de 38% e 48% em volume, a 20° C, obtida através da fermentação do mosto de cana-de-açúcar, e sua destilação, podendo ser adicionada açúcares. Já a aguardente produzida de cana-de-açúcar deve possuir a graduação alcoólica de 38% e 54% em volume, a 20° C.Portaria Mapa nº 539, de 26 de dezembro de 2022
Pode-se ver na Tabela 1 os parâmetros físico-químicos que a cachaça precisa obedecer para estar dentro dos padrões permitidos no Brasil.
Tabela 1: Limites dos parâmetros físico-químicos que a cachaça deve obedecer
Fonte: Mapa nº 539
Há obrigatoriedade de seguir também os limites para contaminantes inorgânicos e orgânicos contido na cachaça, como pode ser visto na tabela 2.

Mercado Externo
Em 2022 a Cachaça foi exportada para 76 países, por mais de 50 empresas, gerando receita de US$ 20,80 milhões (9,31 milhões de litros).
Esses números representam um crescimento de 52,38% em valor e de 29,03% em volume, em comparação a 2021.
Tendo os Estados Unidos, Alemanha, Portugal, França e Itália. os principais países de destino em valor em 2022, como pode ser ver no gráfico 1.

Fonte: Adaptado de IBRAC (2022)
Os 5 estados que mais exportaram cachaça em 2022 foram: São Paulo, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Tendo São Paulo como o maior exportador do Brasil, podendo ver no gráfico 2.
Gráfico 2: Principais estados exportadores de cachaça em 2022.

Fonte: Adaptado de IBRAC (2022)
Agora referindo a valor, os cinco principais estados exportadores em 2022, foram: São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e Paraná. Como mostra o gráfico 3
Gráfico 3: Principais estados exportadores de cachaça em termo de valores no ano de 2022.

Mercado Interno
A produção de cachaça é estimada em 1,2 bilhões de litros anuais, como capacidade instalada. Dados oficiais do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) em 2021, produzido por 951 produtores, produz 800 milhões de litros, de acordo com o Anuário da Cachaça.
Cachaça de alambique e industrial
Foto: Patrícia Wyler. | Foto: Rogério Sakai. | Foto: Celina Henrique. |
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Figura 2. Alambique de cobre com coluna de aço. | Figura 3. Alambique de cobre com alvenaria. | Figura.4. Alambique de cobre. |
A parte nobre da cachaça é separada das impurezas com o objetivo de dar mais qualidade ao produto artesanal e, por fim, vem o processo de envelhecimento em tonéis de madeira (carvalho, bálsamo, além de espécies nativas do País).
Fabricação da cachaça
A fabricação de cachaça ocorre seguindo basicamente os mesmos processos da fabricação do etanol combustível, como mostra a Figura 5, com diferenças nas etapas a partir de destilação.
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Figura 5. Fluxograma da produção de cachaça. |
Foto: Celina Henrique. |
Figura 6. Recepção e moagem da cana. |
Foto: Celina Henrique. |
Figura 7. Tanque de fermentação. |
Independente do fermento utilizado, esse processo deve ser concluído em aproximadamente 24 horas. O método usual para verificar o fim da fermentação é quando o caldo começa a soltar borbulhas de forma uniforme e com cheiro agradável, com leve aroma de frutas. O fermento depositado no fundo da dorna costuma ser reutilizado na próxima fermentação.
O vinho é retirado por gravidade das dornas de fermentação e levado diretamente para a destilação nos alambiques. Na etapa de destilação, não é aproveitado o álcool inicial (cabeça) e final (calda). Utiliza-se para a comercialização somente o álcool do meio da destilação (corpo ou coração), 80% do material destilado.
Após a retirada do álcool, este é padronizado para que o teor alcoólico fique entre 38 e 54%. A partir disso, a cachaça já pode ser engarrafada (Figura 8) ou ir para tonéis de madeira para envelhecimento (Figura 9 e 10). A cachaça envelhecida tem sabor e aroma mais agradáveis do que a cachaça recém destilada, o que lhe agrega maior valor.
Foto: Rogério Sakai. |
Figura 8. Máquina para engarrafamento da cachaça. |
Foto: Rogério Sakai. | Foto: Celina Henrique. |
Figura 9. Tóneis de envelhecimento horizontais. | Figura 10. Tóneis de envelhecimento verticais. |
Fontes consultadas:
MARTINELLI, D. P.; SPERS, E. E.; COSTA, A. F. Ypióca - introduzindo uma bebida genuinamente brasileira no mercado global. In: CONGRESSO ANUAL DO PENSA (PROGRAMA DE ESTUDOS DOS NEGÓCIOS DE SISTEMA INDUSTRIAL), 10., 2000, São Paulo. Anais ... [São Paulo, 2000].
RODRIGUES, L. R.; OLIVEIRA, E. A. A. Q. de. Expansão da exportação de cachaça brasileira: uma nova oportunidade de negócios internacionais. In: ENCONTRO LATINO AMERICANO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA, 11.; ENCONTRO LATINO AMERICANO DE PÓS-GRADUAÇÃO, 7., 2006, São José dos Campos. [Anais...]. [São José dos Campos: Univap, 2007].
IBRAC - https://ibrac.net/servicos/mercado-interno